sábado, 23 de outubro de 2010

O burlão e os lorpas

Excelente texto do Blog "Era mais um fino" da autoria de Luis Melo.

Em todos os países do mundo há burlões, e Portugal não é excepção. A verdade é que além dos burlões tem também de haver lorpas para que a burla seja consumada. E diga-se, também os há… muitos.
Há dias tive conhecimento de uma burla mirabolante. Um casal novo pensava em ter um filho, mas queria garantir que tinha condições para o fazer e dar-lhe uma vida condigna. Como a vida está difícil pensaram bem e resolveram poupar algum dinheiro antes de partir para a aventura de ser pais.

Os 2 recebiam pouco e tinham as despesas correntes para pagar, mas resolveram fazer um sacrifício pelo filho desejado e começaram a meter num banco 25% do que ganhavam. O gerente de conta disse-lhes que ia investir o dinheiro num produto sem risco e que garantia um aumento da poupança. Ficaram maravilhados e deram autorização.

Passados uns tempos foram saber como estava a sua poupança e foram surpreendidos com a notícia de que “a coisa tinha corrido mal” e que já só tinham metade do dinheiro investido. Ficaram preocupados, mas o gerente disse que era uma questão conjuntural e que “a coisa ia melhorar”, garantindo a recuperaração. O casal acreditou no gerente e nem sequer reparou no seu carro novo.

Obviamente que sem surpresa, passados uns meses, a notícia ainda era pior: o dinheiro tinha desaparecido todo. Inocente, o jovem casal não sabia o que fazer, e desesperado voltou a acreditar no bem falante gerente, que lhes pediu mais dinheiro para, agora com outro produto, recuperar o perdido e ainda ir buscar lucros. Mais uma vez anuiram e voltaram a não reparar no pormenor do relógio Breitling que o gerente trazia no pulso.
Algumas semanas volvidas, alertado por alguns amigos, o casal foi ao banco confrontar o gerente com a coincidência de o seu dinheiro desaparecer à medida que o próprio gerente ia aparecendo com sinais exteriores de riqueza. Apanhado com a boca na botija, o gerente disse que se o denunciassem corriam o risco de nunca mais recuperar o dinheiro.

Dirigiram-se então à direcção do banco. Esta, com medo que o caso saísse a público e que destruísse a imagem do banco, resolveu encobrir a situação dizendo que realmente corriam o risco de ficar mesmo sem o dinheiro. Aconselharam o casal a não denunciar o caso e esperar que o dinheiro se recuperasse.
… Como diz muitas vezes o meu avô… “Enquanto houver lorpas“.

Legenda:
- Casal = Povo português
- Banco = Estado português
- Gerente = José Sócrates
- Poupança = Impostos
- Aumento da poupança = Educação, Saúde, Justiça, Emprego
- Carro novo = TGV
- Relógio breitling = novo aeroporto
- Direcção do banco = barões da política, comentadores, banqueiros
- Não denunciar o caso = aprovação do OE 2011.

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